terça-feira, 2 de junho de 2015

Recordar é viver....



Igreja de São Francisco de Assis, em Ouro Preto - MG - Toda talhada e esculpida por Aleijadinho


 Que eu sou uma saudosista nata, não é novidade. Que vivo em um mundo de nostalgia, também não. É com pesar que vejo o tempo se esvaindo pelos meus dedos, sem que eu possa detê-lo. Sempre fui fascinada pelo tempo, e por tudo que ele trás consigo, a passagem dos anos, e esse poder mágico e tão espetacular de ser a única testemunha da História!
E é assim que eu começo esse post de hoje, post este que já está na minha cabeça a um bom tempo, guardado nesse meu baú de lembranças, fervilhando, sendo construído até estar pronto para ser colocado aqui...Já faz muito tempo, eu era uma menininha de cinco para seis anos de idade. Por motivos de trabalho de Papai, fomos morar em Conselheiro Lafaiete - Minas Gerais, cidade onde mora toda a minha família paterna, e que é vizinha à Congonhas do Campo. E foi nessa idade que tive a grande honra de ser apresentada ao Mestre Aleijadinho. 
Base da Escultura do Profeta Ezechiel, um dos Doze Profetas de Aleijadinho
Fomos à Congonhas do Campo, em uma tarde de domingo, em um passeio em família, e lá, vi pela primeira vez, as grandes esculturas feitas em Pedra Sabão, pelo Aleijadinho...na minha ingenuidade infantil, primeiro quis saber o que era " aleijadinho ", depois que minha curiosidade foi satisfeita, queria saber como era possível um homem aleijado esculpir tamanhas esculturas! Muitas foram nossas idas à Congonhas do Campo durante os 05 anos que moramos lá. aos 10 eu já era apaixonada por tanta beleza, e já sabia toda a história de vida daquele que foi o maior expoente do Barroco Brasileiro.
Adro dos Profetas - Igreja de Bom Jesus de Matosinhos - Em Congonhas do Campo MG
Meu saudoso amigo Serjão & Eu
Quando eu estava com 10 anos, Papai foi transferido novamente para minha cidade, e foi com imensa alegria que voltamos para Barra Mansa. Mas eu nunca mais me esqueci de Congonhas do Campo, e do grande Mestre Aleijadinho. Os anos foram passando e sempre alguma coisa me levava novamente à Congonhas, e eu via aquilo tudo como se fosse a primeira vez...

 Aleijadinho é considerado o mais importante artista brasileiro do período colonial. Entretanto, alguns pontos de sua vida são ainda obscuros, a começar por sua data de nascimento. A data de 29 de agosto de 1730, encontrada em uma certidão de óbito de Aleijadinho, conservada no arquivo da Paróquia de Antônio Dias de Ouro Preto. Baseado neste segundo documento, o artista teria falecido em 18 de novembro de 1814, com setenta e seis anos, e seu nascimento dataria, portanto, de 1738. Antônio Francisco Lisboa nasceu bastardo e escravo, uma vez que era "filho natural" do arquiteto português Manoel Francisco Lisboa e de uma de suas escravas africanas. A mesma incerteza caracteriza o capítulo de sua formação. Provavelmente ele não teria freqüentado outra escola que a das primeira letras, e talvez algumas aulas de latim. Sua formação artística, ao que tudo indica, teve como prováveis mestres, primeiramente, o próprio pai, arquiteto de grande projeção na época, e o pintor e desenhista João Gomes Batista, que exercia as funções de abridor de cunhos da Casa de Fundição da então Vila Rica.



Ao fundo Igreja de Bom Jesus de Matosinhos - e um dos Doze Profetas de Aleijadinho.


Um dos Doze Profetas de Aleijadinho - no Adro dos Profetas em frente à Igreja de Bom Jesus de Matosinhos
A primeira menção histórica relativa à carreira artística de Antônio Francisco Lisboa data de 1766, quando o artista recebe a importante encomenda do projeto da igreja de São Francisco de Assis em Ouro Preto.
Adro dos Profetas - Esculturas dos Doze Profetas de Aleijadinho em frente à Igreja de Bom Jesus de Matosinhos
O ano de 1777 seria o ano que dividiria sua vida. Um ano de doenças, crucial. Até ali, suas obras refletia jovialidade, até uma certa alegria. Depois, e principalmente no final, a obra do artista é triste, amargurada e sofrida.
"Tanta preciosidade se acha depositada em um corpo enfermo que precisa ser conduzido a qualquer parte e atarem-se-lhe os ferros para poder obrar" (informação do vereador de Mariana, Joaquim José da Silva, citado por Rodrigo Ferreira Brêtas).
"A lepra nervosa é a única afecção capaz de explicar a mutilação (perda dos dedos dos pés e alguns das mãos), a deformidade (atrofia e curvamento das mãos) e a desfiguração facial, as quais lhe valeram a alcunha de Aleijadinho.
"A lepra nervosa (tipo tuberculóide da moderna classificação) é uma forma clínica não contagiosa, em que as manifestações cutâneas podem ser discretas ou mesmo ausentes. É relativamente benigna, poupa os órgãos internos e tem evolução crônica. Compreende-se assim, que Antônio Francisco Lisboa tenha vivido quase 40 anos após haver-se manifestado a doença que não o impediu de completar sua volumosa obra artística".


Um dos Doze Profetas de Aleijadinho no Adro dos Profetas
Em 1796, no apogeu de uma vitoriosa carreira artística, e considerado pelo próprios contemporâneos como superior a todos outros artistas de seu tempo, Aleijadinho inicia em Congonhas o mais importante ciclo de sua arte. Em menos de dez anos cria 66 figuras esculpidas em cedro, compondo os passos da paixão de Cristo e em pedra-sabão, esculpe os 12 profetas, deixando em Congonhas o maior conjunto estatutário barroco do mundo. As obras de Aleijadinho, estão nas cidades mineiras de : Congonhas do Campo, Ouro Preto, Mariana, Sabará, Tiradentes e Ouro Preto.

Costumo dizer que, estar de frente à uma obra de Aleijadinho, é, ganhar para todo o sempre um belo e sublime presente. Suas obras tem uma força descomunal, e ao mesmo tempo, suas feições conseguem transmitir aos olhos de quem as vê, nossa alma nela refletida. Como pode uma escultura de pedra, ou as de madeira conseguirem transmitir tanta vida?
Ali vejo todas as mazelas humanas, todos os sentimentos pelos quais vivemos por todas as nossas vidas. As dores humanas, e as dores de alma. O conhecimento de séculos e uma verdade que se julga inexistente. Os olhares de Aleijadinho expressados em todas as suas esculturas são fortes, dolorosos, e ao mesmo tempo, são frágeis, límpidos e acreditem: " Vivos "!

Aos mais sonhadores, como eu,  digo: Os olhos das belas esculturas do Mestre Aleijadinho " brilham "!!!

Um dos Doze Profetas de Aleijadinho



Aleijadinho é atemporal. É único . É forte. É vivo. É para sempre!
Estar ali, no auto da uma das lindas montanhas das Minas gerais, no Adro dos Profetas, em meio
 daquelas imensas esculturas é uma lembrança que fica guardada na alma de quem tem a oportunidade de ir até lá e conhecer o Mestre Aleijadinho, que continua vivo através de seu legado mesmo depois de três séculos.
Um dos Doze Profetas de Aleijadinho
Aquela garotinha que aos quase seis anos de idade conheceu o Mestre Aleijadinho, ainda mora em mim, e eu a levo comigo a cada vez que a vida tão bondosa, me concede o presente de mais uma vez ir até Congonhas do Campo! Um lugar que todo brasileiro teria que ter a oportunidade de conhecer, a arte de um escravo, a arte de um povo sofrido, a arte que marcou uma época e o nosso país!

Post especialmente dedicado ao amigo de História Carlos Eduardo - Kadu -



Notas:
- Todas as fotos desse post, são de meu acervo pessoal.
- Fonte de Pesquisa ; " Escritório de Arte "

7 comentários:

  1. Cris minha querida!
    Sou seu fã número um !
    Já estive em Congonhas do Campo, mas nunca olhei aquelas obras com esse olhar. Ler o que você escreveu aqui me deixou extasiado, como a cada vez que te leio. Você deveria escrever mais Cris, muito, muito mais. E tenha certeza de que quero voltar a Congonhas para olhar com o seu olhar.
    Vida nova....vamos marcar alguma coisa? Me liga por favor!
    Abraço saudoso.
    Marcelo

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  2. Cris, muito obrigado por dedicar essa postagem a mim. Realmente o mestre Aleijadinho deixa qualquer um perplexo, pois com suas limitações físicas, ele foi capaz de nos deixar um acervo tão rico em obras de arte. Adoraria conhecer Congonhas do Campo, se possível com vc que tão bem conhece o lugar.
    Parabéns pelo blog.
    Bjs do seu amigo de hoje e sempre,

    Carlos Eduardo - Kadu.

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  3. Olá, vim agradecer e retribuir a sua visita no meu blog.
    Adorei o seu cantinho e já estou a seguir,...
    Beijinhos,
    Espero por si em:
    http://strawberrycandymoreira.blogspot.pt/
    www.facebook.com/omeurefugioculinario

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  4. Cris, já estive duas vezes em Congonhas do Campo, mas sempre correndo. Na primeira vez, para piorar, chovia à cântaros... Na segunda me impressionei com as imagens nas capelas: parecem vivas! Me arrepia só de lembrar. Em agosto, estarei lá de novo com o pessoal do ENCORR e, com certeza, olharei cada escultura com outros olhos! Seu post está divino! Bjks Tetê

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  5. Oi Cris,
    Eu sou mineira e professora dos pequeninos, mas na 4ª série já ensinava os grandes personagens do Brasil, não ia a fundo, pois não podia, mas eles saiam com alguma base.
    Adorei seu post
    Estou lhe seguindo
    Beijos

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  6. Oi Cris,
    Estava sumida hein?!
    Linda postagem...
    Gostei de conhecer um pouco mais sobre
    a carreira artística de Aleijadinho.
    Suas esculturas e obras encantam.
    Lindas fotos!
    Bjs!

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  7. Querida amiga

    Também vivo neste mundo de nostalgia.
    Parece que no passado,
    a inteligência, o humano, as pessoas,
    os sentimentos, a música, a essência,
    a arte, etc,
    tudo parecia ser mais intenso,
    real e verdadeiro.

    Querida amiga

    Penso que a diferença
    entre fracasso e oportunidade
    é a distância de um olhar,
    e da cor da esperança
    que colocamos neste olhar.


    ___________________________

    Gostaria de convidá-la a ler
    as postagens do blog
    www.semvoceeunaoseria.blogspot.com

    Nele estou publicando as primeiras
    páginas de um novo projeto de livro
    com músicas e poemas sobre músicas,
    e como sempre,
    sua opinião é para mim
    deveras valiosa.

    Um imenso abraço.

    Aluísio Cavalcante Jr.

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